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Notícia

Desabafos Irmanados

Publicado em 11 de Outubro de 2024 08:11

Ildeberto Muniz de Almeida – Professor Associado da Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP

Antonio Thomaz Junior – Professor Titular de Geografia do Trabalho da Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP/ Presidente Prudente

 

Nas urnas, a comunidade universitária da UNESP escolheu dirigentes para próximo mandato. A consulta, reconhecida pela comunidade, apenas indica o seu desejo, mas foi absolutamente expressiva a demarcação da supremacia da Chapa 2, com 67,6% dos votos válidos, composta pela Profa. Maysa Furlan e Prof. Cesar Martins, ou seja, 3 vezes mais que a Chapa 1, (20,07% e 5 vezes mais que a chapa 3 (12,33%). Importante notar que pela primeira vez na história da UNESP foi eleita candidata mulher para a Reitoria.

A título de exemplo, na FCT, merece destaque a vitória acachapante da Chapa 2, que obteve 77% dos votos de professores e 74% dos técnico-administrativos. Por sua vez, do total de 2.701 estudantes, 965 votaram, sendo que 89,7% (865 votantes), entenderam que a profa. Maysa e o Prof. Cesar representam avanços e propostas para melhorias que ultrapassem as já ocorridas no campo do acesso à universidade, da permanência estudantil, na atenção à saúde mental de alunos, docentes e servidores técnico-administrativos, dentre outras.

A vitória certamente tem múltiplas razões. Sem querer apontar todas é possível lembrar aqui, que a Professora Maysa é a atual vice-reitora da gestão capitaneada pelo Prof. Pasqual Barreti e que, ambos, assumiram a direção da universidade num momento especialmente difícil. Dificuldades financeiras, persistente redução do efetivo sem pronta reposição, autoritarismos, desmandos foram marcas que a atual gestão soube superar.

A administração foi composta de forma que, regra geral, se amparou em critérios de reconhecimento das carreiras universitárias, assim como em critérios de respeito à diversidade política presente na universidade, no resgate da representação estudantil nas instâncias colegiadas da gestão universitária, e na sintonia com o momento político, que cobrava firme rejeição ao negacionismo, a defesa de políticas afirmativas entre outros desafios.

A permanência estudantil recebeu prioridade e alavancou a inclusão de milhares de estudantes que sentiram que não bastava somente ingressar pelo crivo do vestibular universal, Unesp-Enem, Prova São Paulo que fosse pelas Cotas (Escola Pública, PPI), mas que também pudessem sentir a Universidade mais próxima das condições de vida/manutenção para os estudos. Essas gerações marcarão, para sempre, uma nova Unesp que não terá volta, pois daqui para frente espera-se mais investimentos e mais garantias que possam contribuir também para frear e estancar a evasão.

A vitória também se ancora no desempenho da Chapa Maysa-César, recebida com entusiasmo em todos os recantos da universidade (fato melhor percebido após abertura das urnas). Aparentemente tratam-se de duas lideranças que vinham se consolidando e ganhando reconhecimento na comunidade unespiana ao longo dos anos de atuação na gestão que está encerrando seu mandato.

É verdade que a campanha, aqui em Botucatu, transcorreu fria. Presença quase exclusiva na mídia eletrônica. Sem grupos de apoio pedindo voto ou panfletando, sem marcas visuais como faixas e ou outdoors como em campanhas do passado.

Abertas as urnas e contados os votos a vitória foi inquestionável. Mas, as regras da universidade e as práticas antiuniversidade do antigo governo federal desrespeitando as escolhas das comunidades de muitas escolas federais, permitiram o surgimento de especulações sobre a possibilidade do governo do estado de SP indicar integrantes de chapa com quem se mostra politicamente mais afinado.

As declarações dos representantes das chapas derrotadas, logo no calor da divulgação dos resultados soaram tranquilizadoras, mas não devem ser lidas como indicação de que já esteja tudo resolvido.

Por tudo isso, o momento é de defesa do respeito à vontade majoritária da comunidade que votou na Chapa Maysa-César.

Parece importante que ao lado dos passos institucionais de formalização e validação do resultado eleitoral seja construída agenda de apresentação do resultado a toda a sociedade. A chapa eleita já está apresentada à comunidade universitária e precisa sê-lo também às autoridades de nossas coirmãs estaduais, do governo do estado e da sociedade paulista. Movimentos já executados pelo atual Reitor, como os de pedidos de apoio ao reconhecimento dos resultados das urnas, de contatos com membros do staff político estadual, são bem vindos. Muito mais ainda precisa ser feito de modo a avançar no sentido da indicação da Chapa vencedora pelo governador do estado de São Paulo.

Mas, os desafios a serem enfrentados pela nova direção da universidade são enormes e vão além da garantia do respeito ao resultado das urnas. Boa parte deles foram alvo de reflexões no trabalho de elaboração de plataformas de campanha. Outros, já estão presentes na nossa vida embora talvez ainda precisem ser amadurecidos, coletivamente debatidos e deliberados. Vivemos uma era multicrises que já criou problemas como a pandemia da Covid 19 e o já chamado aquecimento global ou crise ambiental que se associa a crise política – de ameaças à democracia –, crise no mundo trabalho globalizado, financeirizado, plataformizado, de negação da ciência em tempos de inteligência artificial e tecnologia de informação, precarização e inclusão marginal crescentes. A UNESP já respondeu em momento anterior transformando pandemia em oportunidade de afirmação de seu papel científico, social, político e extensionista.

Fazendo paralelo com samba antigo e famoso, a vitória da Chapa Maysa-César nas urnas soa como “semente lançada num solo fértil. E que precisa ser regada e protegida em tempo de muitas pragas” e ameaças potenciais.

A luta continua, companheiros(as) !!!


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