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Dia Mundial Sem Tabaco: o vício que mata 8 milhões por ano
Publicado em 31 de Maio de 2025 07:16
O Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, é mais do que uma data simbólica: é um grito de alerta sobre os riscos devastadores do cigarro para a saúde humana. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabagismo está diretamente associado a mais de 8 milhões de mortes anuais no mundo, sendo responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão. Não à toa, o cigarro é considerado um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade, comprometendo praticamente todos os órgãos e reduzindo drasticamente a expectativa de vida.
Quando se fala em câncer, o tabagismo aparece como o vilão silencioso. O câncer de pulmão, o mais letal de todos, acomete majoritariamente fumantes: impressionantes 85% dos diagnósticos são em pessoas que mantêm esse hábito. “A fumaça do cigarro contém mais de 70 substâncias comprovadamente cancerígenas, que danificam o DNA celular e estimulam o crescimento descontrolado de células malignas”, explica Pedro Pompeu, pneumologista da Hapvida.
Mas não para por aí: o tabaco está por trás de 70% dos casos de câncer de laringe, eleva de duas a três vezes o risco de câncer de estômago e também está associado a tumores na bexiga, esôfago, boca e pâncreas. O coração e os vasos sanguíneos também não saem ilesos. Fumantes têm um risco 70% maior de sofrer infarto e dobram as chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo o pneumologista, substâncias como a nicotina provocam o estreitamento das artérias, facilitam a formação de placas de gordura e elevam a pressão arterial. “Essas alterações reduzem em até 10 anos a expectativa de vida do fumante”, afirma Pompeu, destacando que o tabagismo é um dos principais fatores de risco modificáveis para doenças cardiovasculares.
No campo respiratório, o impacto é ainda mais direto e cruel. Aproximadamente 80% dos casos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) são causados pelo cigarro. Essa enfermidade progressiva pode reduzir em até 70% a capacidade pulmonar nos casos mais graves.
Outro efeito pouco lembrado, mas igualmente grave, é o comprometimento do sistema imunológico. Fumantes apresentam uma redução de 40% nas defesas do corpo, ficando até três vezes mais suscetíveis a infecções como pneumonia e bronquite. O tempo de cicatrização de feridas também dobra.
E o impacto não se restringe aos fumantes: o fumo passivo aumenta em cerca de 30% o risco de doenças relacionadas ao tabaco entre os não fumantes, afetando principalmente crianças, que podem desenvolver asma, bronquite e infecções respiratórias com mais frequência.
Apesar desse cenário alarmante, há esperança. Parar de fumar é uma decisão que traz benefícios quase imediatos: em apenas 20 minutos, a pressão arterial e os níveis de oxigênio no sangue já começam a se normalizar. “Após um ano, o risco de doenças cardíacas cai pela metade; em dez anos, o risco de câncer de pulmão reduz para um terço do observado em fumantes”, reforça o pneumologista. Para quem busca esse recomeço, o apoio médico e psicológico é essencial – e o Dia Mundial Sem Tabaco é a ocasião ideal para lembrar que, nesse caso, cada respiração conta.
Para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$ 5 com o tratamento de doenças provocadas pelo fumo.
O dado faz parte do estudo A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, divulgado na última quarta-feira (28) pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pelo Ministério da Saúde. O documento aponta que, a cada R$ 156 mil de lucro obtido por empresas legalizadas, corresponde, estatisticamente, uma morte causada por doenças como câncer de pulmão, DPOC, AVC ou infarto relacionadas ao tabagismo.
Segundo o estudo, o custo direto médio por morte ligada ao cigarro foi estimado em R$ 361 mil. Já o custo total médio, que inclui perdas econômicas e sociais, chega a R$ 796 mil. Com base nesses dados, o Ministério da Saúde concluiu que, para cada real de lucro, o país gasta de 2 a 3 vezes mais com tratamento, e 5,1 vezes mais ao considerar os impactos econômicos da dependência da nicotina.
Outro levantamento do Inca mostra que o Brasil gasta, por ano, R$ 153,5 bilhões com os danos provocados pelo tabagismo — valor que representa 1,55% do PIB nacional. Em contrapartida, a arrecadação de impostos federais do setor ficou em R$ 8 bilhões em 2022 — o equivalente a apenas 5,2% dos custos totais gerados pelo cigarro.
Apenas com o tratamento de doenças como câncer, problemas cardíacos e respiratórios, o gasto direto chega a R$ 67,2 bilhões. Os custos indiretos — como perda de produtividade e afastamentos — somam R$ 86,3 bilhões. O tabagismo é responsável por 477 mortes por dia no país.
Mesmo proibidos desde 2009, os cigarros eletrônicos seguem atraindo adolescentes e jovens. Dados da pesquisa Vigitel 2023 mostram que 2,1% da população adulta usou vapes no ano passado, com maior prevalência entre jovens de 18 a 24 anos (6,1%).
Atualmente, 19,6 milhões de brasileiros se declaram fumantes — 9,3% da população, com prevalência maior entre homens (11,7%) do que entre mulheres (7,2%). Para enfrentar esse cenário, o SUS oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar. O atendimento é feito nas Unidades Básicas de Saúde, com apoio psicológico e medicamentos como adesivos de nicotina e bupropiona.
(Da revista Forum e Revista Brasileira de Cancerologia)